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terça-feira, 23 de novembro de 2021

DA NECESSIDADE PREMENTE DA ARTE-CIÊNCIA, desde as reflexões de FAYGA OSTROWER

 


CIÊNCIA E ARTE COMO CAMPO ACADÊMICO

 


UM DIÁLOGO ENTRE ARTE E CIÊNCIA NO CINEMA COM PROFs. LUIS PIASSI E NELSON SILVA JUNIOR


 

A ASTRONOMIA DE GIORDANO BRUNO


 

ENTREVISTA COM O PROF. KIRCKHÖFEL - ARTE E CIÊNCIA NO RENASCIMENTO ITALIANO


 

CORPOS VITRUVIANOS

 



Claudio Riuchi Ueda



Busca por Nós e pelo Outro

 

                                             

                   Descrição textual da produção visual: Busca por Nós e pelo Outro

 



 

Com base no estudo de textos sobre Andreas Vesalius, Leonardo Da Vinci e o Codex entre Cigoli-Galileo, juntamente a pesquisa sobre o disco de ouro das naves Voyager 1 e 2 e das placas das naves Pioneer 10 e 11, que ocorreram ao longo do primeiro semestre de 2020 no curso de Artes Visuais, na disciplina de Arte e Ciência: Diálogos Interdisciplinares, pude desenvolver uma produção visual, que aborda através de minha percepção e expressão artística, o conteúdo estudado.

Minha produção visual, retrata uma mulher humana, mostrando seu interior e exterior, em suas mãos há um lápis que representa a arte e uma bússola que representa a ciência e a busca por um lugar, seja para retorno ou descoberta. Ao fundo realizo uma homenagem as invenções humanas que já levam nossas mensagens ao espaço e a uma possível vida extraterrestre, as naves Pioneer e Voyager.

As placas e os discos enviados ao espaço também foram inspiração para o papel dourado utilizado como base para a produção.

No canto inferior esquerdo temos também o sistema solar, onde a Terra está localizada e de onde envio nossa mensagem, já no canto superior direito temos o ano que a mensagem foi desenhada para ser enviada.

A mensagem a ser enviada é muito sobre quem somos, como somos compostos e nosso interesse em aprender sobre o outro e nossas tentativas de nos comunicarmos.

Muito inspirada pelo artigo A lição de anatomia de Andreas Vesalius e a ciência moderna de Kickhöfel, e toda a discussão que ele traz sobre o assunto, resolvi retratar tanto a parte externa do corpo de uma mulher, quanto a interna, dando destaque para os ossos do corpo humano.

Infelizmente diferentemente dos pintores da Renascença, não tive acesso a aulas práticas de dissecação ou de observação de um cadáver enquanto terceiros o dissecavam, mas através da observação das Tabulae anatomicae sex, ou Seis pranchas de anatomia de Andreas Vesalius e de pesquisas mais atuais sobre o esqueleto humano, que se deram na internet e através da orientação de uma enfermeira, pude desenhar o torso, o crânio e ossos que compõe os braços e as pernas de forma coerente com a realidade.

O segundo texto de Kickhöfel, titulado A ciência visual de Leonardo da Vinci: notas para uma interpretação de seus estudos anatômicos, me chamou a atenção pelo seu amplo referencial teórico utilizado, quando ele citou Cennini, comentando sobre as operações manuais utilizadas pela arte de pintar, me fez pensar em quais dessas operações eu poderia estar utilizando em minha obra, como o esboçar, desenhar, marcar e colorir.

Adiante Kickhöfel, continua com as palavras de Cennini (1859. Cap.1) citando que "Convém [ao pintor] ter fantasia nas operações manuais, de encontrar coisas não vistas (fazendo-as sob a sombra do natural) e firmá-las com a mão, dando a demonstrar aquilo que não é, que venha a ser". A partir disso a fantasia é vista no meu trabalho em sua composição geral, mostrando na pessoa retratada, seu lado interno e externo ao mesmo tempo, o que divide esse interno e externo é uma fita que se estende ao longo da folha, somente ela e os ossos que estão desenhados dentro de seu limite são trançados em cor branca.

Além das citações a Kickhöfel, o autor utiliza-se das palavras de Kemp (1966, p.192) para descrever o processo de criação de Leonardo da Vinci, dizendo que "o desenho tornou-se uma forma de pensamento visual mais do que um mero meio para desenhar uma pintura”. Algo que também me despertou interesse pois foi através de diversos desenhos prévios, onde, em cada um deles foram feitos composições, adições e retirada de elementos ao fundo, que se deu o trabalho final aqui exposto, mas sempre com o desenho como modo direto de pensar visualmente.

Como última ligação entre este texto e minha produção, ressalto que alguns dos esboços foram feitos de carvão em barra, um material que geralmente não utilizo, e contornados com Nanquim, me inspirando assim nos esboços de Da Vinci.

Em relação ao livro O Carteggio Entre Cigoli e Galileo: a troca de correspondência entre o artista de Florença e o físico de Pisa de Danhoni Neves, Nardi e Silva. As correspondências sobre a lua e sobre a astronomia, são de fato interessantes e estão presentes nos estudo de ambos, do artista e do cientista, o que os levou a trocar cartas onde eram escritas suas novas observações, estudos e ideias sobre o tema.

Atualmente, temos as redes sociais, que facilitam muito a troca de conhecimentos e ideias entre pessoas, e é desse modo que eu e outras duas alunas do curso, apresentamos nossos projetos, opinamos sobre eles e fizemos sugestões para aperfeiçoar e refinar as ideias da pesquisa e produção de cada uma, apesar de sermos artistas e não termos muito conhecimento científico, como os protagonista do livro, o conhecimento que cada uma possui é diferente e colabora para o desenvolvimento da outra.

Cada um dos textos estudados no semestre foi importante para a execução dessa produção visual, alguns se mostrando-se relevante para organização das ideias, outros para a própria prática, e todos para a temática, deste modo anexo a seguir a obra Busca por Nós e pelo Outro.

 

Mayara Pereira Kusakawa 

Memórias de um lugar chamado Terra: a esperança dentro de uma pequena caixa

 

 

Memórias de um lugar chamado Terra: a esperança dentro de uma pequena caixa


Figura 1

Figura 2

Figura 3

Vivemos em tempos controversos. As verdades que construímos tiveram sua credibilidade abalada e se revelaram apenas imagens frágeis e ilusórias em um espelho quebrado. O que chamamos de lar, um “pálido ponto azul” no espaço, destruímos com nossas próprias mãos. Vivemos adoecidos. Rasgamos nossa pele a procura de quem somos e tudo que encontramos foi o vazio que carregamos. Tudo que temos cabe em uma pequena caixa de lata enferrujada, a que lançamos ao desconhecido mar do universo, junto de uma coisa chamada esperança.

 

***

 

            Em um desejo de compreender o universo e alcançar o que se encontra além de nossa civilização, o Projeto Pioneer lançou duas naves espaciais - a primeira em 1972 e a segunda em 1973 - para fora do Sistema Solar. Nomeadas como Pioneer 10 e Pioner 11, essas sondas carregavam não só o objetivo de exploração planetária, como também um par de placas metálicas com mensagens pictóricas gravadas em suas superfícies, apresentando a figura humana, as informações sobre a localização e a temporalidade dos remetentes. “Onde estamos, quando estamos e quem somos” são as três mensagens principais que Carl Sagan, um dos principais cientistas envolvidos, destacou para essa tentativa de aproximação com os seres extraterrestres, caso as naves fossem interceptadas.

            Mais tarde, um outro programa intitulado Missão Interestelar Voyager também lançou duas naves, a Voyager 1 em 2004 e a Voyager 2 em 2007, para além da Heliosfera. Nessa missão, ambas as naves foram acompanhadas de discos fonográficos contendo sons e imagens que mostram a diversidade de vidas e culturas no Planeta Terra. Ao relatar sobre os Discos de Ouro da Voyager no livro Murmúrios da Terra (1978), Carl Sagan versa sobre a aspiração de comunicar os modos de vida e as culturas de seu tempo às civilizações posteriores e às vidas extraterrestres, por meio dos discos acoplados às naves. Os diálogos interestelares, conforme Sagan (1978) se dariam por intermédio da Ciência, considerada pelos cientistas organizadores do projeto como uma linguagem em comum com outras civilizações externas. Além disso, os propositores dos discos da Voyager interseccionam os conhecimentos científicos às expressões artísticas ao selecionarem uma coletânea de músicas diversificadas, somadas a sons e imagens que remetem a pluralidade de vida na Terra.

            Considerando essas iniciativas de projetar-se para o além, dentro da história da humanidade e a proposta avaliativa da disciplina Arte e Ciência: diálogos interdisciplinares I, ministrada pelo professor Marcos Cesar Danhoni Neves, realizei uma produção audiovisual composta por um arranjo entre imagens e o som da pulsação cardíaca ao fundo. O processo criativo desse vídeo artístico teve como enfoque as reflexões acerca do ser humano e da sua existência no Planeta Terra, contemplando o ciclo de vida, as paisagens, a passagem do tempo, as memórias e as subjetividades construídas.

 


Figura 1: Frames do vídeo. Arquivo pessoal.

 

Ao voltar-me às palavras de Sagan sobre “Onde estamos, quando estamos e quem somos”, entendo que, apesar dos avanços científicos e tecnológicos alcançados, ainda compreendemos muito pouco sobre nossa pequena existência dentro do vasto universo. Somos habitados pela fragilidade do nosso ser e pelo desconhecido que tornam a frase acima nebulosas e indagadoras. Além disso, acompanhamos um percurso humano marcado, muitas vezes, por contradições e movimentos destrutivos que atentam à própria vida das pessoas, de outros seres vivos conterrâneos e da Terra.

Não obstante, também carregamos conosco a esperança de algo. Essa esperança pode ser associada desde às coisas pequenas que almejamos em nosso cotidiano, até as investigações mais ousadas e revolucionárias como aquelas observadas nas correspondências entre Galileu Galilei e Cigoli, nos livros O CODEX Cigoli-Galileo: Ciência, Arte e Religião num enigma copernicano (2015) e O CARTEGGIO CIGOLI E GALILEO: A troca de correspondência entre o artista de Florença e o físico de Pisa (2015). Ao realizarem os estudos da lua em um diálogo entre Arte e Ciências, Cigoli e Galileu vislumbraram nas crateras descobertas sobre a superfície do astro, uma nova concepção para compreender as engrenagens do universo, do planeta em que vivemos e nossa existência dentro dele. Também nesse período, o artista Andreas Vesalius inovou o estudo acerca da anatomia ao demonstrar com suas próprias mãos as partes do cadáver aos alunos, questionando assim uma tradição enclausurada em um saber teórico distante da experiência física e da produção (KICKHÖFEL, 2003) . Ainda sobre as investigações e estudos da anatomia humana na arte renascentista, Leonardo da Vinci desenvolveu uma ciência visual a partir de seus desenhos, com uma nova interpretação da filosofia natural e perseguiu em seus traços o ânimo da vida, a força causadora dos movimentos de um corpo.

 

 


Figura 2: Montagem de fotos com os frames do vídeo. Arquivo pessoal.

 

O que moviam essas figuras em suas trajetórias de busca e conhecimento a ponto de contrariar a maré e refutar os paradigmas herdados de outros tempos? O que leva Sagan e outros cientistas a lançarem naves com mensagens sobre a nossa civilização? Seria a teimosia, a curiosidade, a atração pelo desconhecido? Até aqui, nos baseamos sobre as referências de relações entre os conhecimentos científicos e artísticos, mais especificamente das vertentes visuais, contempladas na disciplina, mas podemos estender essas perguntas para outras esferas de nossas vidas, de nossas culturas, modos de ser, pensar, agir e sentir. O que move o ser humano? O que move cada um de nós todos os dias e em nossa breve existência? Afinal, não buscamos justamente responder a essas indagações que nos acompanham sobre nós mesmos? Dentre essas e tantas outras perguntas suscitadas por nós, me arrisco a dizer que é na esperança que encontramos nossa força motriz e nossas pulsações.

 


Figura 3: Caixa de lata onde conteria um dispositivo com o vídeo criado. Arquivo pessoal.

 

Link para acessar o vídeo:

 

https://photos.app.goo.gl/pvFkcSsECqjww3BcA

 

REFERÊNCIAS

 

KICKHÖFEL, Eduardo Henrique Peiruque. A lição de anatomia de Andreas Vesalius e a ciência moderna.  Scientiæ studia, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 389-404, 2003.

 

KICKHÖFEL, Eduardo Henrique Peiruque. A ciência visual de Leonardo da Vinci: notas para uma interpretação de seus estudos anatômicos. Scientiæ studia, São Paulo, v. 9, n. 2, p. 319-55, 2011.

 

SAGAN, Carl (org). Murmurs of Earth: The Voyager Interstellar Record. New York: Ballantine Books, 1978.

 

SILVA, Josie Agatha Parrilha da; NEVES, Silva e Marcos Cesar Danhoni. O CODEX Cigoli-Galileo: ciência, arte e religião num enigma copernicano. Maringá: Eduem, 2015.

 

SILVA, Josie Agatha Parrilha da;  NEVES, Marcos Cesar Danhoni; NARDI, Roberto (org). O CARTEGGIO ENTRE CIGOLI E GALILEO: a troca de correspondência entre o artista de Florença e o físico de Pisa. Maringá: Eduem, 2015.

 

VIANA, Guilherme. Carl Sagan - As placas Pioneer. 2020. (53s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qgqsR8_wg7c>. Acesso em: 08. jan. 2021.

A HISTÓRIA, POR SEUS CARTAZES, DOS WORKSHOPs PARANAENSE DE ARTE-CIÊNCIA/INTERNATIONAL MEETINGS ON ART-SCIENCE

 










A FUSÃO DAS COISAS

 

A fusão das coisas

Por meio desta produção visual que consiste em uma mesclagem de fotografia e pintura, busco trazer uma perspectiva que demonstre o lado humano da sociedade, sem determinações de etnia, crenças e cultura. Apenas a fusão da essência da humanidade, o ser humano como um ser humano.

Se em um futuro distante, vidas externas e além de nosso plano terrestre vir a nos conhecer, eu gostaria que as outras vidas nos conhecessem da melhor forma e sentissem o poder de uma criação para além do material, a arte. A arte que é transpassada e capta sentidos e nos transmite tantas emoções por um simples gesto, arte é a magia que nos diferencia e nos torna humanos. A expressão singular de cada indivíduo que tem o poder de interligar e criar conexões inexplicáveis de uma mente para outra, nada mais magnífico que mostrar quem somos, não é?

O lado que carrega a humanidade, a emoção, o sentimento... Isso jamais se fez tão presente em outros seres como em nós, essa capacidade que eleva um ser vivo de forma tão potente seria digna de ser conhecida por todas as vidas que regem nesse universo.

Artefatos raros, máquinas, cidades de concreto, tudo que as mãos constroem matematicamente e os encaixa dentro de uma mecânica funcional, realmente seria “O mundo de amanhã”? O que o futuro gostaria de conhecer sobre nós se os mecanismos, contas e fórmulas matemáticas sempre serão concretas e continuarão a existir e a ser usado?

O que o amanhã gostaria de conhecer sobre uma outra vida?

Pode parecer que estou descartando o valor tão nobre da ciência, mas não estou, meu intuito foi materializar o imaterializável, as sensações que nos move, que nos torna quem somos. O espelho e o reflexo convergindo e se tornando a essência da humanidade. 

 

Fernanda Sayuri Ito